quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Álvaro de Campos


 
Pessoa considera que Campos se encontra no «extremo oposto, inteiramente oposto, a Ricardo Reis”, apesar de ser como este um discípulo de Caeiro. É o reflexo do próprio ortónimo

Campos é o “filho indisciplinado da sensação e para ele a sensação é tudo. O sensacionismo faz da sensação a realidade da vida e a base da arte. O eu do poeta tenta integrar e unificar tudo o que tem ou teve existência ou possibilidade de existir.
Este heterónimo aprende de Caeiro a urgência de sentir, mas não lhe basta a «sensação das coisas como são»: procura a totalização das sensações e das percepções conforme as sente, ou como ele próprio afirma “sentir tudo de todas as maneiras”.
Engenheiro naval e viajante, Álvaro de Campos é configurado “biograficamente” por Pessoa como vanguardista e cosmopolita, espelhando-se este seu perfil particularmente nos poemas em que exalta, em tom futurista, a civilização moderna e os valores do progresso.
Cantor do mundo moderno, o poeta procura incessantemente “sentir tudo de todas as maneiras”, seja a força explosiva dos mecanismos, seja a velocidade, seja o próprio desejo de partir. “Poeta da modernidade”, Campos tanto celebra, em poemas de estilo torrencial, amplo, delirante e até violento, a civilização industrial e mecânica, como expressa o desencanto do quotidiano citadino, adoptando sempre o ponto de vista do homem da cidade.

1ª Fase de Álvaro de Campos – Decadentismo (“Opiário”)

- exprime o tédio, o enfado, o cansaço, a naúsea, o abatimento e a necessidade de novas sensações
- traduz a falta de um sentido para a vida e a necessidade de fuga à monotonia
- marcado pelo romantismo e simbolismo (rebuscamento, preciosismo, símbolos e imagens)



“E afinal o que quero é fé, é calma/ E não ter estas sensações confusas.”
“E eu vou buscar o ópio que consola.”


2ª Fase de Álvaro de Campos - Futurista/Sensacionista ("Ode Triunfal")

·        Futurismo
-   elogio da civilização industrial e da técnica (“Ó rodas, ó engrenagens, r-r-r-r-r-r eterno!”, Ode Triunfal)
-   ruptura com o subjectivismo da lírica tradicional
-   atitude escandalosa: transgressão da moral estabelecida
·        Sensacionismo
-   vivência em excesso das sensações (“Sentir tudo de todas as maneiras” – afastamento de Caeiro)
-   sadismo e masoquismo (“Rasgar-me todo, abrir-me completamente,/ tornar-me passento/ A todos os perfumes de óleos e calores e carvões...”, Ode Triunfal)
-   cantor lúcido do mundo moderno

3ª FASE DE ÁLVARO DE CAMPOSPessimismo ("Aniversário")
-   dissolução do “eu”
-   a dor de pensar
-   conflito entre a realidade e o poeta
-   cansaço, tédio, abulia
-   angústia existencial
-   solidão
-   nostalgia da infância irremediavelmente perdida (“Raiva de não ter trazido o passado roubado na algibeira!”, Aniversário)

-   verso livre, em geral, muito longo
-   assonâncias, onomatopeias (por vezes ousadas), aliterações (por vezes ousadas)
-   grafismos expressivos
-   mistura de níveis de língua
-   enumerações excessivas, exclamações, interjeições, pontuação emotiva
-   desvios sintácticos
-   estrangeirismos, neologismos
-   subordinação de fonemas
-   construções nominais, infinitivas e gerundivas
-   metáforas ousadas, oximoros, personificações, hipérboles
-   estética não aristotélica na fase futurista

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