domingo, 13 de novembro de 2011

Epicurismo

O Epicurismo cultivava a traquilidade. Foi fundado por Epicuro.

Segundo este movimento, por detrás dos sentidos, estão os átomos. Existe um número infinito de universos, onde os deuses existem num estado de quietude prazentura.

Para os humanos, o bem supremo encontra-se em estados em que só sente prazer.
A morte é apenas a fronteira da vida.

Tomar responsabilidades públicas não é uma atitude sábia - a vida obscura é mais feliz. Devem evitar-se os prazeres excitantes e aproveitar os tranquilos.

As religiões não devem fomentar a existência de medo entre as pessoas nem o medo da morte.

Estoicismo

O principal fundador do Estoicismo foi Zenão de Cício, cerca de 300 a.C.

O estoicismo era um sistema monístico, tratando o cosmos como a unidade única, que funciona de forma cíclica. A pessoa sábia deve conformar-se com a Natureza e nunca lutar contra ela.
Pregava a indiferença face aos bens materiais e seguimento de virtudes como o discernimento, a coragem a justiça e o autodomínio - que permite a aceitação das ações do universo, do destino e da morte.

Defende a fundação de uma comunidade humana, que reflete a unidade do cosmos.
Todos os seres humanos contém a chama da razão ou o fogo criador divino.

Um verdadeiro estoico deveauxiliar os outros e ignorar diferenças de raça ou condições de nascimento. 

Ricardo Reis

Senta-te ao sol. Abdica
E sê rei de ti próprio.

Ricardo Reis oferece-nos uma filosofia de vida influenciada pelo estoicismo e epicurismo.

O heterónimo, apesar de procurar o prazer e desejar alcançar a felicidade, considera que nunca se consegue a verdadeira calma e tranquilidade, ou seja, a ataraxia. Deve viver em conformidade com as leis do destino, indiferente à dor e ao desprazer, numa ilusão de felicidade.

É um poeta clássico que aceita, com calma lucidez, a relatividade e fugacidade de todas as coisas.

Reis projeta Pessoa para a antiguidade da Grécia clássica. É o poeta das odes.

Surge como a apologia da inteligência de Fernando Pessoa. É através de Reis que Pessoa se aproxima de si mesmo. Em Ricardo Reis vê-se o mundo de angústias que afeta Pessoa e a apatia, desilusão, perante o mistério da vida sem soluções.


       Estilo:
- A poesia revela um estilo trabalhado, rigoroso e clássico;
- A sintaxe clássica latina, com a inversão da ordem lógica, favorece o ritmo das suas ideias disciplinadas;
- Precisão verbal, os latinismos, o uso de formas estróficas e métricas de influência clássica;
- Arcaísmos vocabulares.



Para ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive

Ricardo Reis

Alberto Caeiro

Eu não tenho Filosofia: tenho sentidos...

Amar é a eterna inocência,
E a única inocência é não pensar.

Alberto Caeiro é o poeta da simplicidade completa e clareza total. É o homem da calma absoluta perante o não-sentido da realidade.

Apresenta-se como um simples "guardador de rebanhos", que só vê de forma objetiva e natural a realidade com a qual constata a todo o momento.

O mundo é visto sem necessidade de explicações, sem princípios nem fim e por isso acredita na "eterna novidade do mundo". Recusa o pensamento metafísico ("pensar é estar doente dos olhos"), insistindo em aprender em não pensar, para se libertar de todos os modelos ideológicos e poder ver a realidade concreta. O pensamento gera a infelicidade ("pensar é incomodo como andar à chuva").

Existe uma simbiose entre o sujeito poético e a Natureza sem gente, conseguida através de uma relação direta com os seus elementos.

É o heterónimo do sensacionismo - só lhe interessa vivenciar o mundo que capta pelas sensações.

Representando a reconstrução integral do paganismo, descreve o mundo sem pensar nele.


     Linguagem e estilo:

- Linguagem corrente e construções causais;
- Pouca adejetivação, paralelismos, assíndetos, predominância das formas verbais no presente do indicativo.
- ritmo lento, alternância entre sons nasais, vogais abertas e semiabertas, ausência de rima

Heteronímia

Os heterónimos surgem da tendência constante que Pessoa tem para a despersonalização e para a simulação.

Ricardo Reis, o primeiro heterónimo, surge em 1912, quando, ao acaso, escreves uns poemas de índole pagã.
Este heterónimo nasceu em 1887, no Porto. Foi médico e esteve no Brasil, visto que se expatriou por ser monárquico. Fisicamente, era um pouco baixo, mas forte, seco e moreno. Foi educado num colégio de Jesuitas. Por educação alheia, é um latinista e por educação própria considera-se um semi-helenista.



Alberto Caeiro surge a 8 de março de 1914, numa tentativa de Fernando Pessoa fazer uma partida a Sá Carneiro - criar um poeta bucólico, complicado e apresentá-lo. Surge então, quando Pessoa escreve o poema "O Guardador de Rebanhos". 
Este heterónimo revelou-se como uma reação de Pessoa contra a sua própria existência. Nasceu em 1889, em Lisboa, mas viveu quase toda a vida no campo - sem profissão, nem qualquer educação - e morreu em 1915. Fisicamente, era de estatura média, louro e, embora fosse frágil, dado que morreu de tuberculose, não o aparentava.


Álvaro de Campos, o mais histérico dos heterónimos, surge de uma derivação oposta à de Ricardo Reis, com o poema "Ode Triunfal". Nasceu em Tavira, a 15 de outubro de 1890, às 13:30m. Era engenheiro naval, por Glasgow, mas encontrava-se por Lisboa em inatividade.
Tipo de judeu português, cabelo liso e normalmente apartado ao lado, com monóculo. Teve uma educação vulgar de liceu e depois foi mandado para a Escócia para estudar engenharia (primeiro mecânica, depois naval). Ensinou-lhe latim um tio beirão que era padre.

Fingimento Artístico

Crendo na afirmação de que o significado das palavras está em quem as lê e não em quem as escreve, Fernando Pessoa aborda a temática do “fingimento”; o poeta baseia--se em experiências vividas, mas transcreve apenas o que lhe vai na imaginação e não o real, não está a sentir o que não é real. O leitor é que ao ler, vai sentir o poema.
Efectivamente, a supremacia da razão sobre as emoções no acto de criar é sintetizada no poema “Autopsicografia”. Neste, o sujeito poético parte da afirmação “O poeta é um fingidor” para realçar a sua concepção poética: a dor real, para se elevar a poesia, tem de ser fingida, imaginada.

No poema “Isto”, Pessoa marca novamente a exclusividade da sensação intelectual “simplesmente sinto/ Com a imaginação”. “Sinta quem lê!”, pois o poeta não sente, deixa isso para os que lêem.

Dor de pensar

Fernando Pessoa é um homem que vive e pensa simultaneamente, e que, pensando no que vive, pensa que a vida só vale a pena ser vivida quando vivida sem pensamento, uma vez que o próprio pensamento corrompe a inconsciência, inerente à felicidade de viver. De facto, mais feliz é aquele que vive na ignorância, alheio à realidade da vida, do que aquele que baseia a sua existência na lucidez.  

Esta dor de pensar surge no poema “Ela Canta, Pobre Ceifeira”, mais concretamente nos versos “Ah, poder ser tu, sendo eu! / Ter a tua alegre inconsciência, / E a consciência disso!”. No que toca à obsessão pela análise, o seu sofrimento advém da sua constante auto-análise, não se permitindo sentir a felicidade, restando-lhe o sofrimento, uma vez que não abdica do saber doloroso.

Nostalgia de um bem perdido

O poeta procura recordar a sua primeira infância, mas não consegue lembrar mais que a vida após os cinco anos, data da morte do pai.

De facto, no poema Pobre e velha música, Pessoa imagina ter sido alguém diferente na infância, “outro”, não sabendo sequer se fora feliz: “E eu era feliz? Não sei: / Fui-o outrora agora”. Estas dicotomias, sempre presentes na sua obra, mostram a impossibilidade de se definir, desconhecendo esta infância fugaz.

Na realidade, este passado é como um refúgio para o presente, uma alegria na alma do poeta, ao tentar recordar esse tempo em que era “o menino da sua mãe”. No entanto, esta não passa de um sonho, memória perdida e remota, como o próprio refere no poema Quando as crianças brincam: “E toda aquela infância / Que não tive me vem, / (…) Que não foi de ninguém”.