O género épico remonta à antiguidade grego e latina sendo os seus expoentes máximos Homero e Virgílio.
A epopeia é um género narrativo em verso, em estilo elevado, que visa celebrar feitos grandiosos de heróis fora do comum reais ou lendários.
Estrutura interna de Os Lusíadas:
Proposição
Canto I, est. 1-3, em que Camões proclama ir cantar as grandes vitórias e os homens ilustres - “as armas e os barões assinalados”; as conquistas e navegações no Oriente (reinados de D. Manuel e de D. João III); as vitórias em África e na Ásia desde D. João a D. Manuel, que dilataram “a fé e o império”; e, por último, todos aqueles que pelas suas obras valorosas “se vão da lei da morte libertando”, todos aqueles que mereceram e merecem a “imortalidade” na memória dos homens. A proposição aponta também para os “ingredientes” que constituíram os quatro planos do poema:
- Plano da Viagem - celebração de uma viagem:
"...da Ocidental praia lusitana / Por mares nunca de antes navegados / Passaram além da Tapobrana...";
- Plano da História - vai contar-se a história de um povo:
"...o peito ilustre lusitano..."."...as memórias gloriosas / Daqueles Reis que foram dilatando / A Fé, o império e as terras viciosas / De África e de Ásia...";
Plano dos Deuses (ou do Maravilhoso) - ao qual os Portugueses se equiparam:
"... esforçados / Mais do que prometia a força humana..."."A quem Neptuno e Marte obedeceram...";
- Plano do Poeta - em que a voz do poeta se ergue, na primeira pessoa:
"...Cantando espalharei por toda a parte. / Se a tanto me ajudar o engenho e arte..."."...Que eu canto o peito ilustre lusitano...".
Invocação
Canto I, est. 4-5, o poeta pede ajuda a entidades mitológicas, chamadas musas. Isso acontece várias vezes ao longo do poema, sempre que o autor precisa de inspiração:
- Tágides ou ninfas do Tejo (Canto I, est. 4-5);
- Calíope - musa da eloquência e da poesia épica (Canto II, est. 1-2);
- Ninfas do Tejo e do Mondego (Canto VII, est. 78-87);
- Calíope (Canto X, est. 8-9);
- Calíope (Canto X, est. 145).
Dedicatória
Canto I, est. 6-18, é o oferecimento do poema a D. Sebastião, que encara toda a esperança do poeta, que quer ver nele um monarca poderoso, capaz de retomar “a dilatação da fé e do império” e de ultrapassar a crise do momento. Termina com uma exortação ao rei para que também se torne digno de ser cantado, prosseguindo as lutas contra os Mouros. Exórdio (est. 6-8) - início do discurso;
Exposição (est. 9-11) - corpo do discurso;
Confirmação (est. 12-14) - onde são apresentados os exemplos;
Peroração (est. 15-17) - espécie de recapitulação ou remate;
Epílogo (est. 18) - conclusão.
Narração
Começa no Canto I, est. 19 e constitui a acção principal que, à maneira clássica, se inicia “in medias res”, isto é, quando a viagem já vai a meio, “Já no largo oceano navegavam”, encontrando-se já os portugueses em pleno Oceano Índico. Este começo da acção central, a viagem da descoberta do caminho marítimo para a Índia, quando os portugueses se encontram já a meio do percurso do canal de Moçambique vai permitir: - A narração do percurso até Melinde (narrador heterodiegético);
- A narração da História de Portugal até à viagem (por Vasco da Gama);
- A inclusão da narração da primeira parte da viagem;
- A apresentação do último troço da viagem (narrador heterodiegético).
A narrativa organiza-se em quatro planos: o da viagem, e o dos deuses, em alternância, ocupam uma posição importante. A História de Portugal está encaixada na viagem. As considerações pessoais aparecem normalmente nos finais de canto e constituem, de um modo geral, a visão crítica do poeta sobre o seu tempo.
Estrutura externa de Os Lusíadas:
A obra divide-se em dez partes, às quais se chama cantos.
Cada canto tem um número variável de estrofes (em média de 110). O canto mais longo é o X, com 156 estrofes.
As estrofes são oitavas, portanto constituídas por oito versos. Cada verso é constituído por dez sílabas métricas; nas sua maioria, os versos são heróicos (acentuados nas sextas e décimas sílabas).
O esquema rimático é o mesmo em todas as estrofes da obra, sendo portanto, rima cruzada nos seis primeiros versos e emparelhada nos dois últimos (AB-AB-AB-CC).