quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Os Lusíadas

O género épico remonta à antiguidade grego e latina sendo os seus expoentes máximos Homero e Virgílio.
A epopeia é um género narrativo em verso, em estilo elevado, que visa celebrar feitos grandiosos de heróis fora do comum reais ou lendários.

 Estrutura interna de Os Lusíadas:  

Proposição
Canto I, est. 1-3, em que Camões proclama ir cantar as grandes vitórias e os homens ilustres - “as armas e os barões assinalados”; as conquistas e navegações no Oriente (reinados de D. Manuel e de D. João III); as vitórias em África e na Ásia desde D. João a D. Manuel, que dilataram “a fé e o império”; e, por último, todos aqueles que pelas suas obras valorosas “se vão da lei da morte libertando”, todos aqueles que mereceram e merecem a “imortalidade” na memória dos homens. A proposição aponta também para os “ingredientes” que constituíram os quatro planos do poema:
  • Plano da Viagem - celebração de uma viagem:
"...da Ocidental praia lusitana / Por mares nunca de antes navegados / Passaram além da Tapobrana...";
  • Plano da História - vai contar-se a história de um povo:
"...o peito ilustre lusitano..."."...as memórias gloriosas / Daqueles Reis que foram dilatando / A Fé, o império e as terras viciosas / De África e de Ásia...";
Plano dos Deuses (ou do Maravilhoso) - ao qual os Portugueses se equiparam:
"... esforçados / Mais do que prometia a força humana..."."A quem Neptuno e Marte obedeceram...";
  • Plano do Poeta - em que a voz do poeta se ergue, na primeira pessoa:
"...Cantando espalharei por toda a parte. / Se a tanto me ajudar o engenho e arte..."."...Que eu canto o peito ilustre lusitano...".

Invocação
Canto I, est. 4-5, o poeta pede ajuda a entidades mitológicas, chamadas musas. Isso acontece várias vezes ao longo do poema, sempre que o autor precisa de inspiração:
  • Tágides ou ninfas do Tejo (Canto I, est. 4-5);
  • Calíope - musa da eloquência e da poesia épica (Canto II, est. 1-2);
  • Ninfas do Tejo e do Mondego (Canto VII, est. 78-87);
  • Calíope (Canto X, est. 8-9);
  • Calíope (Canto X, est. 145).
Dedicatória
Canto I, est. 6-18, é o oferecimento do poema a D. Sebastião, que encara toda a esperança do poeta, que quer ver nele um monarca poderoso, capaz de retomar “a dilatação da fé e do império” e de ultrapassar a crise do momento. Termina com uma exortação ao rei para que também se torne digno de ser cantado, prosseguindo as lutas contra os Mouros.  Exórdio (est. 6-8) - início do discurso;
Exposição (est. 9-11) - corpo do discurso;
Confirmação (est. 12-14) - onde são apresentados os exemplos;
Peroração (est. 15-17) - espécie de recapitulação ou remate;
Epílogo (est. 18) - conclusão.

Narração
Começa no Canto I, est. 19 e constitui a acção principal que, à maneira clássica, se inicia “in medias res”, isto é, quando a viagem já vai a meio, “Já no largo oceano navegavam”, encontrando-se já os portugueses em pleno Oceano Índico. Este começo da acção central, a viagem da descoberta do caminho marítimo para a Índia, quando os portugueses se encontram já a meio do percurso do canal de Moçambique vai permitir:   - A narração do percurso até Melinde (narrador heterodiegético);
- A narração da História de Portugal até à viagem (por Vasco da Gama);
- A inclusão da narração da primeira parte da viagem;
- A apresentação do último troço da viagem (narrador heterodiegético).

A narrativa organiza-se em quatro planos: o da viagem, e o dos deuses, em alternância, ocupam uma posição importante. A História de Portugal está encaixada na viagem. As considerações pessoais aparecem normalmente nos finais de canto e constituem, de um modo geral, a visão crítica do poeta sobre o seu tempo.
 
 Estrutura externa de Os Lusíadas:
      
 A obra divide-se em dez partes, às quais se chama cantos. 

 Cada canto tem um número variável de estrofes (em média de 110). O canto mais longo é o X, com 156 estrofes.

 As estrofes são oitavas, portanto constituídas por oito versos. Cada verso é constituído por dez sílabas métricas; nas sua maioria, os versos são heróicos (acentuados nas sextas e décimas sílabas).

 O esquema rimático é o mesmo em todas as estrofes da obra, sendo portanto, rima cruzada nos seis primeiros versos e emparelhada nos dois últimos (AB-AB-AB-CC).


Classicismo

Termo cuja utilização se generalizou, ao longo do século XIX, para designar uma tendência estética. O termo classicismo é ainda, sob uma perspectiva histórica mais alargada, tido como abarcando também o barroco e o maneirismo, considerando-se que apenas o Romantismo introduz concepções artísticas radicalmente diferentes. O classicismo toma por modelos as formas, regras e temas da arte da antiguidade greco-romana.
De forma geral, o início do classicismo coincide com o período Renascentista; a recuperação de modelos e valores da cultura antiga greco-latina acompanha o crescimento do interesse pelo humano, estranho à tradição escolástica medieval. A assimilação dos preceitos clássicos foi heterogénea, no tempo e no espaço Em finais do século XVIII, o classicismo renova-se com o neoclassicismo.

As artes do Classicismo
Música: Designa-se Música Clássica a música erudita, ou seja, a música ocidental composta entre os séculos XVIII e XIX. Num sentido mais amplo, é tomada também como sinónimo de toda a música erudita ocidental.

    Literatura: Camões foi o mais importante poeta do classicismo português, sendo sua maior obra, Os Lusíadas, a maior epopéia já escrita em português.

Humanismo



Doutrina centrada nos interesses e valores humanos. Num sentido mais restrito, o termo designa também um movimento intelectual europeu do Renascimento, que influenciou a cultura da época nas vertentes literária e artística. Caracterizou-se pela valorização do espírito humano e por uma atitude crescentemente individualista, a par de um grande interesse pela redescoberta das obras artísticas e literárias da antiguidade clássica. Estabeleceu-se então o ideal do homem renascentista, que deveria ser simultaneamente um poeta, um erudito e um guerreiro.
Nesta aceção, o humanismo teve origem nos estudos literários levados a cabo nos séculos XIII e XIV por homens de letras como Petrarca. Na época, o humanismo ganhou maior peso com os estudos de textos literários do passado, resultando na redescoberta, para o ocidente, do grande acervo da literatura grega clássica. Em Portugal o humanismo atingiu o seu ponto alto no século XVI, fomentado pela universidade e, sobretudo, pela criação, em Coimbra, do Colégio das Artes (1548).
O humanismo renascentista propõe o antropocentrismo. O antropocentrismo era a idéia de "o homem ser o centro do pensamento filosófico", ao contrário do teocentrismo, a idéia de "Deus no centro do pensamento filosófico". O antropocentrismo surgiu a partir do renascimento cultural.

Renascimento

Movimento cultural que se desenvolveu na Europa ao longo dos séculos XV e XVI, com efeitos nas artes, nas ciências e em outros ramos da actividade humana.
No centro da transformação intelectual renascentista encontra-se a passagem de uma mentalidade teocêntrica (que colocava Deus no centro da reflexão humana) a uma mentalidade antropocêntrica (que via o homem como centro). Esta proposta correspondia a um reconhecimento e a uma crença optimista nas capacidades e no valor do ser humano, contrapondo-se à visão medieval do mundo.
O termo Renascimento está ligado ao facto de, neste período, os eruditos europeus terem voltado a sua atenção para as grandes obras da antiguidade clássica, que acreditavam terem sido esquecidas durante a Idade Média. Nelas encontravam as raízes das questões básicas que pretendiam responder alguns dos seus problemas. As obras clássicas eram também modelo para as obras que pretendiam criar.
Em Portugal, a difusão do humanismo foi fomentada pelo envio de bolseiros a outros pontos da Europa e pela vinda de estrangeiros a Portugal, apesar da difusão dos ideais renascentistas ter sido dificultada pela Inquisição, instituída em Portugal em 1537.

As artes no Renasciemento
Pintura:  nova maneira de representar a natureza, através de domínio tal sobre a técnica pictórica e a perspectiva de ponto central, que foi capaz de criar uma eficiente ilusão de espaço tridimensional em uma superfície plana.
Michelangelo: O Juízo Final

Escultura
Nicola Pisano: Adão
Música: Em linhas gerais, a música do Renascimento não oferece um panorama de quebras abruptas de continuidade, e todo o longo período pode ser considerado o terreno da lenta transformação do universo modal para o tonal, e da polifonia horizontal para a harmonia vertical. O Renascimento foi também um período de grande renovação no tratamento da voz e na orquestração, no instrumental e na consolidação dos géneros e formas puramente instrumentais com as suítes de danças para bailes, havendo grande demanda por animação musical em todo festejo ou cerimônia, público ou privado

Arquitetura:
Michelangelo: A cúpula de São Pedro

Luís Vaz de Camões


"No Mundo vi poucos anos, e cansados,
Vivi, cheios de Vil miséria dura:
Foi-me tão cedo a luz do dia escuro.
Que nao vi cinco Lustros acabados."



Luís Vaz de Camões nasceu em 1524 ou 1525, provavelmente em Lisboa (Coimbra também é geralmente apontada como o local de nascimento do Poeta), e morreu em Lisboa a 10 de Junho de 1580.

Pouco se sabe com certeza sobre a sua vida. Pertencia a uma família da pequena nobreza e terá recebido uma sólida educação nos moldes clássicos, dominando o latim e conhecendo a literatura e a história antigas e modernas. Pode ter estudado na Universidade de Coimbra, mas a sua passagem pela escola não é documentada.

Frequentou a corte de Dom João III, iniciou a sua carreira como poeta lírico e envolveu-se em amores com damas da nobreza.

Diz-se que, por conta de um amor frustrado, se autoexilou em África, alistado como militar, onde perdeu um olho em batalha. Voltando a Portugal, feriu um servo do Paço e foi preso. Perdoado, partiu para o Oriente. Passando lá vários anos, enfrentou uma série de adversidades, foi preso várias vezes, combateu bravamente ao lado das forças portuguesas e escreveu a sua obra mais conhecida, a epopeia nacionalista Os Lusíadas.

De volta à pátria, publicou Os Lusíadas e recebeu uma pequena pensão do rei Dom Sebastião pelos serviços prestados à Coroa.

Logo após a sua morte a sua obra lírica foi reunida na coletânea Rimas, tendo deixado também três obras de teatro cómico. Enquanto viveu queixou-se várias vezes de alegadas injustiças que sofrera e da escassa atenção que a sua obra recebia, mas pouco depois de falecer a sua poesia começou a ser reconhecida como valiosa por vários nomes importantes da literatura europeia, ganhando prestígio sempre crescente e influenciando gerações de poetas em vários países.

Camões foi um renovador da língua portuguesa; tornou-se um dos mais fortes símbolos de identidade da sua pátria e é uma referência para toda a comunidade lusófona internacional. 

É considerado um dos grandes vultos literários da tradição ocidental, sendo traduzido para várias línguas e tornando-se objeto de uma vasta quantidade de estudos críticos.

Bibliografia

Narrativa épica
1572- Os Lusíadas (texto completo)

Lírica
1595 - Amor é fogo que arde sem se ver
1595 - Eu cantarei o amor tão docemente
1595 - Verdes são os campos
1595 - Que me quereis, perpétuas saudades?
1595 - Sobolos rios que vão
1595 - Transforma-se o amador na cousa amada
1595 - Sete anos de pastor Jacob servia
1595 - Alma minha gentil, que te partiste
1595 - Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades
1595 - Quem diz que Amor é falso ou enganoso

Teatro1587 - El-Rei Seleuco
1587 - Auto de Filodemo
1587 - Anfitriões

Álvaro de Campos


 
Pessoa considera que Campos se encontra no «extremo oposto, inteiramente oposto, a Ricardo Reis”, apesar de ser como este um discípulo de Caeiro. É o reflexo do próprio ortónimo

Campos é o “filho indisciplinado da sensação e para ele a sensação é tudo. O sensacionismo faz da sensação a realidade da vida e a base da arte. O eu do poeta tenta integrar e unificar tudo o que tem ou teve existência ou possibilidade de existir.
Este heterónimo aprende de Caeiro a urgência de sentir, mas não lhe basta a «sensação das coisas como são»: procura a totalização das sensações e das percepções conforme as sente, ou como ele próprio afirma “sentir tudo de todas as maneiras”.
Engenheiro naval e viajante, Álvaro de Campos é configurado “biograficamente” por Pessoa como vanguardista e cosmopolita, espelhando-se este seu perfil particularmente nos poemas em que exalta, em tom futurista, a civilização moderna e os valores do progresso.
Cantor do mundo moderno, o poeta procura incessantemente “sentir tudo de todas as maneiras”, seja a força explosiva dos mecanismos, seja a velocidade, seja o próprio desejo de partir. “Poeta da modernidade”, Campos tanto celebra, em poemas de estilo torrencial, amplo, delirante e até violento, a civilização industrial e mecânica, como expressa o desencanto do quotidiano citadino, adoptando sempre o ponto de vista do homem da cidade.

1ª Fase de Álvaro de Campos – Decadentismo (“Opiário”)

- exprime o tédio, o enfado, o cansaço, a naúsea, o abatimento e a necessidade de novas sensações
- traduz a falta de um sentido para a vida e a necessidade de fuga à monotonia
- marcado pelo romantismo e simbolismo (rebuscamento, preciosismo, símbolos e imagens)



“E afinal o que quero é fé, é calma/ E não ter estas sensações confusas.”
“E eu vou buscar o ópio que consola.”


2ª Fase de Álvaro de Campos - Futurista/Sensacionista ("Ode Triunfal")

·        Futurismo
-   elogio da civilização industrial e da técnica (“Ó rodas, ó engrenagens, r-r-r-r-r-r eterno!”, Ode Triunfal)
-   ruptura com o subjectivismo da lírica tradicional
-   atitude escandalosa: transgressão da moral estabelecida
·        Sensacionismo
-   vivência em excesso das sensações (“Sentir tudo de todas as maneiras” – afastamento de Caeiro)
-   sadismo e masoquismo (“Rasgar-me todo, abrir-me completamente,/ tornar-me passento/ A todos os perfumes de óleos e calores e carvões...”, Ode Triunfal)
-   cantor lúcido do mundo moderno

3ª FASE DE ÁLVARO DE CAMPOSPessimismo ("Aniversário")
-   dissolução do “eu”
-   a dor de pensar
-   conflito entre a realidade e o poeta
-   cansaço, tédio, abulia
-   angústia existencial
-   solidão
-   nostalgia da infância irremediavelmente perdida (“Raiva de não ter trazido o passado roubado na algibeira!”, Aniversário)

-   verso livre, em geral, muito longo
-   assonâncias, onomatopeias (por vezes ousadas), aliterações (por vezes ousadas)
-   grafismos expressivos
-   mistura de níveis de língua
-   enumerações excessivas, exclamações, interjeições, pontuação emotiva
-   desvios sintácticos
-   estrangeirismos, neologismos
-   subordinação de fonemas
-   construções nominais, infinitivas e gerundivas
-   metáforas ousadas, oximoros, personificações, hipérboles
-   estética não aristotélica na fase futurista